ÉRRES DO ARMÁRIO - Reduzir, Reutilizar, Reciclar ✔️
Os érres da sustentabilidade deram o mote para esta extrapolação doméstica e
inspiraram-me para uma adaptação ao nosso armário.
Será que nós podemos ter um armário mais consciente, mais sustentável, mais responsável? Será que tudo isso é possível e ainda assim ele reflectir quem nós somos?
A construção de um guarda-roupa com menos impacto negativo é possível, não inteiramente perfeito, mas pensado e adaptado a cada um de nós.
Nós, efectivamente, podemos estar atentos e ser mais conscientes na nossa relação com a roupa e, através do nosso armário, ter um impacto positivo e real. Ele também pode ser mais sustentável e, não por isso, ser menos nosso. Muito pelo contrário.
Como é que nós, como consumidores, podemos contribuir?
Podemos comprar menos, podemos comprar melhor. Um consumidor consciente é aquele que entende que as suas escolhas e os seus gastos têm um impacto. Entende que deve diminuir em quantidades e em frequência de compra e que deve priorizar a qualidade e a durabilidade assim como negócios mais justos para com o planeta e para com as pessoas.
Entender que ter o chamado “armário de sonho” não é mais do que uma falácia. O armário deve ser o mais funcional possível, prático e adaptável ao estilo de vida de cada um. Um armário para ser usado no agora.
Escrutinar o que há dentro do roupeiro auxilia a perceber e a definir necessidades. Estar ciente das peças que estão em excesso ou em falta, clarifica as ideias e evita compras desnecessárias.
Ser criterioso e tentar responder a questões que podem ser determinantes para a decisão de manter ou não um item no armário.
Esta peça faz-me falta? Está em harmonia com o resto da minha roupa? Representa-me? É confortável e sinto-me bem nela? Tenho algo semelhante ou repetido? Gosto de me ver com ela? Vejo-me a vestir esta peça no futuro?
Não é necessário seguir à regra os preceitos da Marie Kondo, mas as directrizes de organização de armário que ela nos fornece são muito úteis.
Desta forma vamos poder reduzir de uma forma esquematizada e sensata, tomando decisões activas e úteis. Manter os espaços limpos, visualmente apelativos e que “deixem a roupa respirar”, é uma mais valia.
O objectivo é saber onde temos toda a nossa roupa, colocá-la de maneira a que a sua rotação seja possível de uma forma quase intuitiva e utilizar tudo o que já se tem. Hábitos, tais como a selecção prévia do conjunto no dia anterior ou até para todos os dias da semana, são saudáveis para um armário mais vivo e funcional.
Passar a ver o que se tem com orgulho de vestir uma e outra vez a mesma peça. O que deve “estar na moda” e em “tendência” é o facto de se repetir roupa e não o contrário. Não é um bom uso do dinheiro ou dos recursos do planeta descartar roupas que ainda estão em boas condições.
A criatividade tem um papel de destaque na reinvenção do nosso guarda-roupa. Exercitá-la, através da experimentação, através da tentativa e erro, vai ajudar a que as mesmas peças de roupa se usem em múltiplas e inovadoras combinações.
Só cada um de nós pode definir aquilo que realmente precisa e as opiniões ou sugestões dos outros são somente isso, opiniões e sugestões. Está nas nossas mãos a percepção e o raciocínio da compra pensada e da satisfação das tuas necessidades.
Mais uma vez, cada um de nós pode, de uma forma racional, alterar os seus hábitos de consumo e os seus costumes e controlar ou contornar pulsões mais inconscientes e inconsistentes.
O armário estrategicamente pensado e coerente vai de encontro às necessidades, estilo de vida e gostos pessoais. Seguir alguma tendência é algo natural. Seguir todas as tendências é uma fragilidade, uma alerta de que algo não está bem.
O conserto pode ser tão simples como perder uns minutos a coser um botão ou a levar sapatos a um sapateiro. Se as habilidades com a linha e o dedal não são fabulosas, há gente que pode ajudar. Também, se houver vontade, há imensos tutoriais online ou, se houver muito empenho, fazer um curso de costura!
O upcycling não é só uma palavra que está na moda. Efectivamente, uma nova peça pode surgir de outra que já não se goste ou que já não cumpra o seu propósito. Não descartar automaticamente algo que ainda pode ser reinterpretado noutro item, é uma opção a ter em conta.
Permitir-se o tempo e a prioridade para trabalhar todos estes pontos que perfazem também o cerne de um armário personalizado, um armário único.
É tempo de deixar de lado as auto críticas negativas e destrutivas. Respeitar e acarinhar o próprio corpo, aquele que sustenta as acções, é um passo valioso para conseguir uma relação sã com o armário.
As roupas não chegam até nós por arte de magia. Há um número elevado de pessoas por cujas mãos passam e que merecem todo o teu respeito. Merecem ter condições de trabalho dignas, merecem um salário justo, merecem elogios e merecem apoio.
A roupa não é um objecto descartável de um só uso. Cuidar do que se tem é uma premissa para um guarda-roupa mais sustentável.
Espero que esta adaptação livre e deliberada da minha parte te faça olhar para o teu armário de uma forma mais crítica. Cada um de nós pode construir, com o seu posicionamento e acções, um armário coeso, orientado à funcionalidade e gerido por padrões mais responsáveis.
Autora: Sara Pinto da Silva
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